segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Algumas reflexões do ensino em Design: tendências ao generalista.

Depois que o Ministério da Educação e Cultura e o Conselho Nacional de Educação instituíram as mais novas Diretrizes Curriculares do MEC para a área de Desenho Industrial(1), atualmente, conhecida por Design, as Instituições de Ensino Superior tiveram que reformular suas grades e matrizes curriculares para se adequarem a esta nova realidade.

Isso parte do pressuposto de que o profissional graduado nesta área deverá ter uma preparação mais holística e menos específica como se configurava em outras épocas: as conhecidas ênfases em Projeto do Produto ou Programação Visual deverão sair do cenário e dar origem a uma graduação generalista. Esta configuração se dá por acreditar-se em um profissional mais dinâmico, completo, diversificado e que possa ter a capacidade de moldar-se diante das demandas do mercado. A intenção é louvável, mas possui muitas armadilhas que se apresentam principalmente diante do processo de graduação.

A analogia que estabelecemos é a seguinte: imaginemos tal estratégia ser direcionada e aplicada nas Engenharias. Atualmente, o ensino em engenharia se comporta separado por ênfases, ou seja, os cursos são ofertados a partir de especificações de subáreas: i) Engenharia Elétrica; ii) Engenharia Civil; iii) Engenharia Mecânica; iv) Engenharia Química; v) Engenharia de Produção entre outras. Será que se essa filosofia generalista fosse também aplicada às engenharias haveria perda ou ganho no ensino e na formação do profissional? Bem, deixemos o questionamento para os próprios engenheiros refletirem se isto ocorrer um dia, mas com aqueles poucos que temos mantido diálogo não percebemos boas impressões a cerca dessa suposição. Dificilmente, um engenheiro generalista estará preparado para tamanha empreitada, pois as áreas do conhecimento e suas aplicações são distintas. Certamente, segundo alguns deles, haveria comprometimentos sérios para os profissionais e para a própria área da Engenharia caso isto viesse a acontecer.

Pois bem, o mesmo raciocínio deve ser transportado para o Design. Imaginou-se em propor uma graduação generalista e, com a pós-graduação, os profissionais buscarem posteriormente as suas ênfases e especificidades. A estratégia faz sentido, porém desde que o nível e a qualidade na graduação não sejam interferidos. E o que temos visto na prática, pela experiência e em contato com as grades e matrizes curriculares generalistas dos cursos mais recentes se tem demonstrado algumas preocupações:

Primeiro: Uma formação generalista em design amplia-se demais o universo de atuação, por conseguinte, exige-se um número maior de componentes curriculares de diversas abordagens;

Segundo: Essa modalidade de formação promete uma preparação holística, mas não embasa o candidato à profissão em área alguma. O que se apresenta como uma promessa de um “poderoso” profissional, apto para qualquer situação projetual finda em uma formação básica, superficial e limitada a poucas experiências projetuais;

Terceiro: As grades e matrizes curriculares se transformam e termina pulverizada em diversas áreas de maneira bastante superficial sem se aprofundar em especialidade alguma;

Quarto: As áreas e ênfases distintas, a saber, produto, moda, gráfico e interiores possuem uma pluralidade de conhecimentos tamanha que se torna inviável uma formação em apenas quatro anos, mesmo que isso ocorra superficialmente. Supondo, por exemplo, que projeto de produto pode ser desdobrado em projeto de brinquedos, de móveis, de máquinas e implementos agrícolas, de ferramentas, de eletrodomésticos, de eletrônicos, de veículos de transporte, entre outros, e que para cada segmento existem determinadas especificidades imaginemos quando adicionadas às outras especificidades da moda, do gráfico e de interiores;

Quinto: Para se adequar a carga horária mínima de 2.400 horas, determinada pelas Diretrizes Curriculares em Design, isto significa dizer se aproximar ao máximo dela para evitarmos currículos e carga horária extensa demais, as IES são forçadas a reduzir a carga horária nos componentes curriculares. Isto acarreta em problemas didático-pedagógicos, principalmente, para os componentes projetuais e práticos;

Sexto: Ao final de sua formação o futuro profissional se gradua com a sensação de fragilidade, superficialidade, sem auto-estima, sem confiança em si mesmo e bastante receoso do que enfrentará pela frente. Temos presenciado profissionais bastante inseguros e indecisos sobre o seu futuro.

Talvez por esses e outros motivos muitas IES e cursos de Desenho Industrial/Design Industrial relutam em alterar suas grades e matrizes curriculares por perceberem que tais questões são graves e trazem implicações ao ensino projetual e à profissionalização.

______________________
(1) Sobre as Novas Diretrizes Curriculares em Design consulte:

• Parecer CNE/CES 0195/2003 aprovado em 5 de agosto de 2003, publicado no DOU de 12 de fevereiro de 2004, seção 1, pág. 14;
• Parecer CNE/CES nº 329/2004 aprovado em 11 de setembro de 2004, republicado no DOU em 13 de setembro de 2007;
• Resolução do CNE/CES nº 5, de 8 de março de 2004, publicada no DOU nº 63, Seção 1, de 1º de abril de 2004, Página 19.